Não sou político partidário, nem ao menos pretendo ser um. Também não tenho nada contra ou a favor da atual Administração Pública de nossa cidade, no entanto, acredito que não seja uma boa política agir de forma antipática aos munícipes quando existem formas menos agressivas do que as de multar no primeiro momento, até a justiça julga de forma diferenciada o réu primário do reincidente, e hoje com o avanço tecnológico na área da informática, é possível saber na hora se o possível infrator já foi advertido anteriormente pela mesma infração, autuando-o então em caso afirmativo.
Deve-se evitar a falta de clareza ao colocar uma sinalização de advertência quando existem normas técnicas determinando como fazer, também é recomendado esclarecer e demonstrar tecnicamente à população a necessidade ou não de determinados equipamentos. É prejudicial não mostrar conhecimento de causa ou não provar que cada atitude tomada é produto de estudos realizados por técnicos reconhecidos como especialistas na área. É preciso comprovar a autenticidade do departamento responsável e dos profissionais e técnicos que ali atuam, com o registro no Conselho da classe, afinal, estamos nos referindo a um departamento ou empresa técnica de engenharia de tráfego.
Também não é de “bom tom” não esclarecer o destino do dinheiro arrecadado com as multas, já que a empresa que as emite é uma empresa privada de capital misto.
Tenho saudades do meu tempo de estudante do Colégio Pedro II, onde durante 32 anos fomos protegidos pelo Guarda Amaral. Ele, figura lendária do Rio de Janeiro, era conhecido como “anjo da guarda” dos estudantes do Pedro II. Um profissional honrado e integro da antiga Guarda Civil e que dirigia o trânsito na porta do colégio na confluência da Av. Floriano Peixoto com Avenida Passos.
Quando um veículo, ônibus, caminhão ou automóvel passava na porta do colégio a uma velocidade acima do que pode ser considerado normal para o local, imediatamente ouvia-se um apito característico do guarda de trânsito. Em seguida, o motorista estacionava o veículo junto à calçada e aguardava a aproximação do Guarda Amaral.
Nosso “anjo da guarda” solicitava, com toda a educação que lhe foi conferida pela família e endossada pela guarnição a que pertencia, o documento do motorista e do veículo. Após averiguação de que estava tudo em ordem, agindo sempre com muita calma e gentileza, Amaral se dirigia ao condutor do veículo. Nesse momento, iniciava ali um pequeno sermão sem agressões, sem acusações ou ofensas, mas da forma mais didática possível. Assim, ele mostrava ao “quase infrator” as consequências de um excesso de velocidade, o possível acidente de trânsito que poderia ser causado e a possível vítima que poderia ter sido gerada, finalmente, ele mostrava a possibilidade de um daqueles estudantes ser filho ou parente daquele motorista.
Após aquela preleção seguida por uma “boa viagem”, o motorista ao passar por ali novamente lembrava-se do sermão do guarda Amaral, e “tirava o pé” do acelerador automaticamente para não passar pelo “vexame” de ser chamado a atenção outra vez, mantendo uma boa conduta no trânsito. Ouvi muitos dizerem que preferiam receber uma multa a ouvir um sermão do guarda Amaral, e dizem que ele nunca emitiu uma multa sequer durante todo o tempo em que serviu na extinta e saudosa Guarda Civil do Rio de Janeiro.
O Guarda Amaral sempre morou em casa alugada em Bonsucesso, subúrbio do Rio de Janeiro, nunca possuiu veículo nem bens imóveis e morreu com cerca de 80 anos como sempre viveu: honestamente e feliz.