Os Filósofos e a Arquitetura – Parte I

Às vezes me perguntava: será que só eu considero o ser humano mais importante do que todo o resto? Sim, porque se a humanidade não existisse, apenas os animais e as coisas, quem iria usufruir? Aproveitar? Dar valor? Será que vale a pena colocar tudo isso dentro de uma redoma, visando à preservação, e deixar o ser humano de fora? Mas, então, vamos preservar para quem?

Mas descobri que outros também pensam como eu, ou pensavam enquanto vivos.

Os Filósofos e a Arquitetura: Oscar Niemeyer

Nunca compartilhei da ideologia política de Oscar Niemeyer, nem mesmo sou grande admirador de seus projetos. No entanto, me curvo diante do grande brasileiro que foi, cumprindo um papel excepcional na divulgação do nome de nosso país por meio dos seus projetos mundo afora.

Ele nos deixou, com uma experiência de 104 anos de vida, além de seus projetos, seus pensamentos e filosofia de vida:

“Toda escola superior deveria oferecer aulas de filosofia e história. Assim fugiríamos da figura do especialista e ganharíamos profissionais capacitados a conversar sobre a vida”.  – O.Niemeyer

“Arquitetura…  O importante é a vida, os amigos, este mundo injusto que devemos modificar” – O.Niemeyer

“Meu trabalho não tem importância, nem a arquitetura tem importância pra mim. Para mim o importante é a vida, a gente se abraçar, conhecer as pessoas, haver solidariedade, pensar num mundo melhor, o resto é conversa fiada.” – O.Niemeyer

“Urbanismo e arquitetura não acrescentam nada. Na rua, protestando, é que a gente transforma o País.” – O.Niemeyer

“Eu me lembro que na Europa, às vezes, eles diziam: ‘O passado arquitetônico de vocês é pobre, é mais português do que brasileiro’. E eu dizia: ‘isso é muito bom para nós, porque vocês vivem circulando entre monumentos, e nós estamos livres pra fazer hoje o passado de amanhã’.” – O.Niemeyer

Acredito que ele não conhecesse tão bem assim o Brasil quando fez essa afirmação de que …”estamos livres para fazer hoje o passado de amanhã”, mas valeu a intenção.

Jan Gehl

Os Filósofos e a Arquitetura – Niemeyer dispensa apresentação, mas este outro pouco conhecido no Brasil é assim apresentado: Jan Gehl, Urbanista Pesquisador da Royal Danish Academy of Fines Artes de Copenhague e autor do livro Cidade para pessoas. Em entrevista à VEJA edição: 2284, disse:

“Os Planejadores urbanos têm colocado o impacto visual à frente das necessidades humanas” – Jan Gehl.

“O fato de uma cidade ter uma preocupação maior com o meio ambiente não é, absolutamente, garantia de que ela esteja voltada para as necessidades de seus habitantes, que transcendem muito a questão ecológica” – Jan Gehl.

“Se você fica em uma festa por mais tempo que planejava, é porque se divertiu. Toda cidade deveria ser como aquela festa que dá certo, em que as pessoas se sentem tão bem e tão à vontade que acabam ficando.” – Jan Gehl.

Em entrevista a Bianca Antunes na revista AU – Arquitetura e Urbanismo edição 215, Jan Gehl diz, entre outras coisas que “…após o quinto andar, não se pode mais ver ou estar em contato com o que se passa na cidade.”

E na sequência, respondendo a outra pergunta “conheci investidores que entenderam que é muito melhor se puderem fazer uma maravilhosa vizinhança onde as pessoas adorariam morar e visitar. É um negócio muito melhor do que fazer algo que todos odeiam. Investidores espertos são preocupados com a qualidade. E outros não tão espertos estão mais preocupados com a densidade pura.  Não é fácil. O que se precisa é de um bom líder político. E é lógico: onde se encontram bons exemplos de transformação urbana estão os bons líderes políticos. Porque é preciso que se diga: Chega. Daqui para frente precisamos fazer algo melhor”.

Encerrando a matéria, ele deixou um recado para os estudantes: “posso citar um Arquiteto. Ralph Erskiner, disse uma vez que, para ser um bom Arquiteto você precisa amar as pessoas. Porque Arquitetura é uma arte aplicada e lida com a moldura da vida das pessoas. Os edifícios emolduram nossas vidas.”

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